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Carta da Terra completa 18 anos


Pare por um momento. Por apenas alguns minutos. Desligue de toda correria da sua vida. Das preocupações e ansiedades. Agora vá até seu quintal, o jardim mais próximo ou a praça da esquina. Qualquer lugar que tenha verde – muito verde. Tire os sapatos e feche os olhos. Feche seus ouvidos para toda a loucura da cidade. Agora, sinta a grama e a terra sob seus pés descalços. Preste bem atenção e ouça o barulho do vento nas folhas das árvores. Respire fundo e perceba o odor das plantas.

Esta é a Terra. Nossa casa. Ela tem sido o nosso lar por milênios. Não importa se acreditamos no evolucionismo ou criacionismo, ela não faz distinção. Nos recebeu de braços abertos. Nos deu generosamente abrigo, alimento e proteção. A Terra nos oferece diariamente tudo o que ela tem de mais precioso: água, solo fértil, calor e paisagens naturais deslumbrantes.

Todavia, gananciosos e prepotentes como somos, não demos devido valor a quem nos acolheu. Da mãe Terra, fomos extraindo tudo o que pudemos – simplesmente para nosso conforto e satisfação pessoal. Poluímos o ar, sujamos a água, derrubamos suas florestas e praticamente esgotamos seus recursos naturais.

Mas a Terra não resistiu a nossos maus-tratos. Nossa casa começou a dar sinais de que está doente. Foi então, na década de 70, quando o movimento hippie tomou as ruas das cidades, que o movimento “paz e amor” iniciou uma reconexão com a natureza. Naquele tempo, foi celebrado pela primeira vez o Dia da Terra – Earth Day, em inglês. O ativismo ambiental começava a dar seus primeiros passos.


Alguns anos mais tarde, em 1987, uma comissão internacional, liderada pela diplomata norueguesa Gro Harlem Brundtland (uma mulher visionária, muito a frente de seu tempo, que já havia sido ministra do meio ambiente e primeira-ministra daquele país), elaborou o relatório “Nosso Futuro Comum”. O documento se tornaria um marco, já que pela primeira vez na história, usava a expressão desenvolvimento sustentável, ao falar de como aquele que satisfaz as necessidades da geração presente sem comprometer a habilidade das gerações futuras satisfazerem as suas necessidades.

Baseada neste relatório, as Nações Unidas recomendaram que fosse redigido um novo documento, que alertasse à população mundial sobre os desafios do século XXI rumo a um desenvolvimento mais justo e igualitário e, paralelamente, clamasse pela necessidade da conservação e proteção da riqueza e biodiversidade dos ecossistemas do planeta.

O primeiro rascunho deste documento, que recebeu o nome de Carta da Terra, foi feito em 1992, durante a Conferência Rio92, realizada no Rio de Janeiro. Mas foi somente oito anos mais tarde, em 2000, depois que milhares de pessoas do mundo todo – os povos da Terra – fossem ouvidas, que a versão final foi finalmente divulgada, em Haia, na Holanda.

A Carta da Terra não é um documento de burocratas. É um reconhecimento, um pedido de desculpas. Um compromisso poético para com o planeta Terra. É uma declaração de amor tardia. Ela nos mostra de maneira clara e contundente como precisamos agir se queremos continuar morando aqui. Dela fazem parte mensagens sobre justiça social e econômica, cultura de paz, conservação ambiental, respeito ao diálogo e à vida em todas as suas formas (leia a Carta da Terra na íntegra aqui).

Ao definir, na prática, o que seria o que sempre chamamos teoricamente de um mundo melhor, a Carta da Terra desenha com palavras como devemos mudar nosso comportamento como moradores do planeta.



Após a publicação do texto, diversas organizações do mundo todo começaram a trabalhar com seu conteúdo. Muitas destas iniciativas são coordenadas pela organização internacional Earth Charter (este é o nome da Carta da Terra em inglês). No Brasil, a carta ganhou inclusive uma linda versão infantil, para que os pequenos habitantes do planeta aprendessem a cuidar de nossa grande casa.

Em 2009, as Nações Unidas declararam que no dia 22 de abril seria celebrado o International Mother Earth Day. Para a ONU, o termo “Mãe Terra” reflete a interdependência que existe entre o ser humano, os outros seres vivos e o planeta onde todos nós habitamos.

Nos permitimos perder a ligação com o que é mais vital e intrínseco à nossa existência. Nascemos na Terra e daqui partiremos. Nossa existência toda será em seu solo, em meio a suas água e ao seu verde. Mas há tempo de despertar e a Carta da Terra nos proporciona esta oportunidade. Ela deve ser nosso livro de cabeceira, nosso guia, nosso ideal. Porque a Terra só temos a agradecer pela sua generosidade e compaixão com seus habitantes.

Suzana Camargo

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